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     Vindo do outro lado do mar, o artista e amigo que tomamos por companhia, vem procurando, serenamente, mostrar-se expor-se entre nós, uma vez fixado em Cascais.

    Traz consigo um trabalho reconhecido que agora também temos oportunidade de conhecer. Em boa hora, como irão testemunhar, optou por esta encantadora beira-mar.

    Rogério Tunes, expõe-se através de uma palete de sobreposições cromá- ticas que não deixa ninguém indiferente.

    A variedade da cor mas também a liberdade do gesto compõe uma riqueza de motivos que preenche a tela com uma segurança consistente.

   Não se procurem contornos limitadores nem pistas simples para aí interpretar a vida e o mundo, nem se busquem fulgurações reconhecíveis.

    Espera-nos um labirinto que se percorre com as nossas paixões, onde a imaginação encontra espaços amplos e criativos, onde o olhar acrescenta para se enriquecer.

     Nada pode ser mais complexo do que a ausência dos contornos que delimitam as ideias e as emoções pois deixam à nossa imaginação a tarefa de lhe fixar os limites, o que dificulta a tarefa de aproximação aos seus quadros mas excita no exercício da sua compreensão.

    Neste espaço amplo e aberto que a tela oferece, o olhar com que a fixamos, é surpreendido de imediato pela forma expressiva que o trabalho de misturas de cor oferece, deleitando-se em traços harmoniosos e apelativos.

     Mas não é tudo!

    A beleza não cede à facilidade e leva-nos em jubilosa emoção aos limites da tela como se chegássemos à beira do precipício, como se a paisagem donde vimos exigisse uma ponte para outros caminhos e novas histórias de encantar que aguardam a nossa atenção e o nosso olhar criativo.

   Cada quadro de Rogério Tunes é uma dádiva à nossa imaginação, um apelo à nossa inteligência e criatividade mas, acima de tudo, a oportunidade de alcançar novos motivos, novas alegrias e novas paragens.

    As sucessivas experimentações da cor atraem-nos e retêm-nos obsessivamente, mas permitem alcançar os percursos de um traço firme e exigente que recorta planos e temas que nos força a um exercício mais intelectualizado e a um esforço duro de interpretação.

   Não se esperem facilidades, o Rogério quer que nos soltemos, que superemos constrangimentos e, sem preconceitos, acrescentemos ao seu trabalho o nosso esforço de compreensão, mas não se desiludirá quem, simplesmente, se deleitar com as novas alegrias que cada obra nos oferece.  

    Estamos, apenas, obrigados a dar a nossa melhor atenção se quisermos fruir da sua companhia.  

   Há um optimismo contagiante na obra de Rogério Tunes que não devemos perder. Basta seguir sem medo, com disponibilidade para a aventura que a cor e os espaços que o traço recorta nos oferece.

     A força com que o artista ataca o silêncio da tela através da torrente de cor e desarmonias controladas do traço, cedo deixa transparecer a bondade e a serenidade quase infantil de uma personalidade cativante.

     Uma mistura cromática intensa, explosões e pequenas interrupções de negros e cinzentos que parecem querer delimitar espaços para pequenos enigmas, fazem da tela um espaço em busca de sentido que se oferece mas não se explica.

     O observador tem a oportunidade de se reconstruir através das questões que a obra lhe coloca.

     É pena, se deixamos fugir a oportunidade de partir nesta viagem com tão boa companhia, que se sustenta numa crença segura na religiosidade com que ilumina os caminhos da sua obra e da sua vida , seguro de que nunca parte sozinho.

     Rogério Tunes oferece-nos, com genuíno despojamento, as suas convicções, a sua bondade e generosidade através de uma pintura intensa mas serena e sem pretensiosismos inúteis.

    Abertas que estão as comportas da criação é só seguir a torrente de beleza que se espraia pelo espaço da tela.

     Bem vindos, a viagem vai começar.

                                                                                                         José Luis Forte

 

     Há obras de arte que se afirmam desde o início pelo sucesso na recepção. Sem agenciamentos do aparatus crítico, sem a propulsão do imperativo da inovação. Tal qual! Empatia espontânea, sincronia nos esquemas de percepção do gusto de um segmento do Zeitgeist com as peculiaridades da fatura, com o elemento estético da obra. Simplicidade no fenômeno da aceitação. Certa magia. Nenhuma grande rationale filosofante a ser perscrutada pela análise crítica.

   Assim é o processo de impacto estético da obra de Rogerio Tunes. Essa pintura abstrata informal de cunho episodicamente expressionista causa bonheur na recepção e certo malaise na critica. Pinceladas vigorosas, arremessos cromáticos, um certo tachismo (na acepção recente de Pierre Guéguem), energia vital que procura expressão plástica... A expressão artística de Rogerio Tunes, na pintura  é um ato de afirmação artística, uma metáfora do Kunstwollen de uns dos paradigmas das teóricas estéticas alemãs da virada do século XIX para o XX.

     Com percurso acadêmico e profissional nas artes gráficas, o impacto de uma temporada em Nova Iorque, no início da década de 80, terá certamente sido fundamental em sua futura práxis artística. Pollock e De Kooning representam as influências mais decisivas desse período. As variantes de um certo abstracionismo informal em confrontos e metamorfoses com um moderado expressionismo abstrato falam pelas linhas de força, pelo centro de gravidade que sustentam e determinam o ato criativo em suas telas.

     A expressão artística de Rogerio Tunes é depurativa diante de si mesma e do espectador. Ocorre na recepção uma simplificação da carga semiótica; um certo minimalismo polissêmico, não raramente quase rudemente simples em sua expressão. O diafragma que intermedia a obra e a recepção reduz o campo significativo e enfatiza quase que com simplória eloquência o impacto estético em sua mais imediata contundência - enseja o fruir da obra de arte de uma maneira imediata, tout court.

     Duveen dissera certa vez que a obra de arte boa para o público e para o marchand é aquela que se vende por si só. Essa afirmação, brutalmente simples, deixa críticos de sobrancelhas arqueadas e diz muito da obra de Rogerio Tunes. Que segredo contêm elas, para além dos cortes e recortes do pós-moderno, que expliquem seu bem sucedido apelo? Uma magia cromática, reverberações discretas de arquétipos no inconsciente moderno? O élan vital (Bérgson) que perpassa suas largas pinceladas? O jogo de claros/escuros, de ascendente/descendentes? A tensão do plano que evita e descarta as profundidades? O  pragmatismo abstrato de Rogerio Tunes está em conivência com o espírito da época: despojamento enfático da retórica cromática, eliminação das recorrentes metafísicas.

      Mas a metáfora cósmica permeia o campo cromático e semântico, sístoles e diástoles tachistas evocam a dinâmica das forças de um caos original que ele tenta plasticamente representar... e controlar! Aqui o Kunstwollen se faz mais presente e a sensação e constatação do senso de composição de suas telas restaura-nos a impressão de possibilidade, de terra firme. Por fora do caos, da gigantomachia das convergentes e rispidamente contrastada das cores, existe um formato, um formato de cunho abstrato, um anteparo, um sentido estético, enfim, uma controlada ousadia; um artista que desordena e restaura ao mesmo tempo. Há algo, até mesmo, de um certo classicismo subjacente, um elemento recorrente, restaurador, talvez um otimismo sísifico que se recusa a arrastar-se pela conflagração desordenada das forcas caóticas que ele procura representar. Há também um certo confronto com vazio primordial, um desafio diante do horror vacui. O imperativo do rigor é uma herança provável de uma influencia  distante, velada, de Mondrian.

       A paleta de Rogerio Tunes é decididamente grave, mas de uma gravidade afirmativa, enérgica e otimista. É essa uma de suas diferenças com a tradição expressionista clássica. Os contrastes ocorrem, sobretudo com as cores frias - um preto onipresente e soberano - entremeados de um episódico elemento restaurador ou transgressor do amarelo ou vermelho, mas que podem também atuar como tenores de seu concerto cromático. Graves, mas não drásticos. Graves e, sobretudo não tristes. Seu amarelo não possui de modo algum a drasticidade emocional de seus antepassados expressionistas. Seu vermelho não é tampouco sentimental, espalhafatoso. É um vermelho ostinato. Se ele excitar em demasia sempre haverá um azul para acalmar. O episódico verde de uma fase pretérita é hoje raro. Uma paleta vital dentro de uma expressão abstrata que se tornou a via do artista, um artista que se recusa a aceitar propaladas definições acadêmicas que lhe enfiem etiquetas como se fossem moldes referenciais.

                                                                                                                              Jesualdo Correia

                                                                                                                                   Crítico de Arte

"Ser ou não Ser, não é essa a questão"

 

Rogério Tunes sabe o que faz para ser o que É. Sua qualidade é inquestionável. Obras que não me atrevo a rotulá-las como Abstratas.

No fundo o que se vê é o "supra sumo" do seu interior. Ele pinta a imagem da sua Alma na sua suposta obra "abstrata". Tudo ali é puro "figurativo".

É fácil fazer a figura do abstrato quando se sabe a resposta da questão!

 

               Marcio Atherino

                    Artista plástico

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